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domingo, 31 de agosto de 2008


Aquelas nuvens, que voam,
Ninguém pode pôr-lhes mão...
São como as horas que soam,
E as aves, que em bando vão...
Como a folha desprendida,
E como os sonhos da vida,
Aquelas nuvens que voam...

Aquelas nuvens que vemos,
Esses poemas aéreos,
São os sonhos que nós temos,
Nossos intímos mistérios!
São espelhos flutuantes
Das nossas dores constantes
Aquelas nuvens que vemos...

Nossa alma vai - se com elas,
À procura, quem o sabe?
Doutras esferas mais belas,
Já que no mundo não cabe...
Voando, sem dar um grito,
Através desse infinito,
Nossa alma vai - se com elas!

Antero de Quental

Imagem: www.olhares.com

sábado, 16 de agosto de 2008

A pressão do tempo

Porque vivemos numa roda viva e numa inquietação permanente ?

Andar depressa, fazer à pressa responder apressadamente, vão-se tornando características de um tempo que não deixa tempo.

A pressão do tempo gera stress. A expressão vulgarmente usada de "prazo final", pressupõe uma ameaça. "Se não entregar dentro do prazo limite é o fim".

Não podemos acreditar que o tempo está a acabar.Por sermos ao mesmo tempo físicos e quânticos, vivemos vidas multidimensionais. Ocupamos o mundo visível dos sentidos, mas também ocupamos o mundo quântico.

Quando mergulhamos na água do mar, a nossa consciência não se molha.

As limitações da vida física interferem muito pouco com o mundo quântico.

O frio do inverno não congela as nossas recordações.

São universos paralelos onde vivemos, sem pensar nisso. Não estamos presos ao tempo, a nossa viagem não começa ou termina no mundo físico. A nossa essência é intemporal.

Somos fruto de uma educação que prioriza actividades que desenvolvem a racionalidade desvinculada da intuição, da emoção e dos sentimentos do ser.

Não temos mais tempo, priorizamos pouco tempo para ser, para estar e para a partilha dos afectos.

O stress da actividade profissional faz acumular uma tal necessidade de evasão que tem que ser satisfeita prontamente e em geral de forma frenética.

Á medida que aceleramos, a nossa relação com o tempo torna-se cada vez mais apertada e disfuncional.

As férias são hoje cansativas, com um extenso programa de actividades que é preciso cumprir, é preciso fazer o maior número de coisas, o que não permite o repouso e a renovação. O tempo livre não é saboreado, mas sim consumido.

Este frenesim é também transmitido aos nossos filhos. Há crianças com uma agenda semanal tão sobrecarregada como a de um empresário: escola, piscina, música, artes marciais, inglês, etc. Não sobra tempo.

A vida torna-se, uma sequência de dias vazios que é preciso preencher depressa.

Perdemos a arte de não fazer nada, e ficarmos simplesmente sozinhos com os nossos pensamentos.

Se nos retiram os estímulos entramos em pânico e procuramos qualquer coisa para ocupar o tempo.

Numa simples viagem de comboio, as pessoas não olham simplesmente pela janela. Toda a gente está ocupada, a ler o jornal, a jogar videojogos, a ouvir iPods, a trabalhar no computador portátil, ou a falar ao telemóvel.

Desenvolvemos uma psicologia da velocidade. Quantas pessoas se queixam, " Oh, tenho tanto que fazer, não sei para onde me virar, a minha vida é uma confusão, não tenho tempo para nada", o que muiras vezes querem dizer é: " Olhem bem para mim: Sou imensamente importante ".

Mas, de que serve subir a escada do sucesso, se pelo caminho perdermos os primeiros passos dos nossos filhos?

Talvez o desafio do movimento Slow seja o de tentar curar a nossa relação neurótica com o tempo.

A filosofia deste movimento resume-se numa simples palavra: equilíbrio.

Viver a velocidade correcta, ser rápido quando faz sentido ser rápido, ser lento quando faz sentido ser lento.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

À descoberta do silêncio

A infinita variedade de silêncios revela-se plena de sentidos.
Se escutarmos, o silêncio fala-nos acerca dos lugares e dos seres. Num mundo cada vez mais ruidoso, o valor do silêncio precisa ser redescoberto.

Nas cidades, o ruído torna-se parte integrante de toda a actividade, funciona como uma droga. O silêncio inquieta.

No nosso dia-a-dia tudo fazemos para que o silêncio não se prolongue muito tempo: daí todas aquelas discussões ociosas sobre o tempo que faz ou vai fazer, quando não há mais nada para dizer.

O silêncio é a face oculta da pessoa.

Ele possui a limitação do olhar, porque os olhos são a moldura das coisas que não dizemos.Os grandes silêncios precisam de um vasto olhar.

Podemos procurar em nós um silêncio que é serenidade. Este estado permite-nos enfrentar melhor o stress quotidiano.

O homem moderno vive enclausurado entre as burocracias, entre o aborrecimento e a distracção, produzindo muito ruído, o ser humano foge de tudo aquilo que se assemelha ao vazio, onde ele poderia, talvez, reencontrar e contemplar o seu “rosto original”.

O receio de viver o silêncio criou uma cultura superficial, que cortou com os momentos intensos onde nos deixamos flutuar nas vibrações do meio ambiente, numa espécie de osmose subtil que perpassa cada ser.

Precisamos começar a transcender esse estado, saindo do barulho à descoberta do silêncio.

O silêncio não é uma ausência de som, mas sim um desvio da atenção para sons que nos falem à alma.