Sitemeter

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Como quem num dia de verão abre a porta de casa e espreita para o calor dos campos


Verão
Alberto Caeiro
Heterônimo de Fernando Pessoa (1888-1935)

Como quem num dia de Verão abre a porta de casa
e espreita para o calor dos campos com a cara toda,
às vezes de repente, bate-me a Natureza de chapa
na cara dos meus sentidos,
e eu fico confuso, perturbado, querendo perceber
não sei bem como nem o quê.
Mas quem me mandou a mim querer perceber?Quem me disse que havia de perceber?
Quando o verão me passa pela cara
a mão leve e quente de sua brisa,
só tenho que sentir agrado porque é brisa
ou que sentir desagrado porque é quente,
e de qualquer maneira que eu o sinta,
assim, porque assim o sinto, é que é
meu dever senti-lo...

5 comentários:

Mar Arável disse...

Insondáveis quando queremos agarrar infinitos
Insaciàveis de tanto querer

Graça Pires disse...

Os dias de verão. O calor dos campos. A magia das palavras.
Um beijo.

Ana Oliveira disse...

Alberto Caeiro...gosto tanto.

Obrigada


Um beijo

Lusibero disse...

ALBERTO CAEIRO, o heterónimo "rudimentar" de PESSOA! O ser não pensante, "porque pensar dói, como andar à chuva"...O heterónimo que o próprio Pessoa ortónimo considera um "MESTRE", pela simples razão de se recusar a viver, pensando.
LINDO, PARTILHA DE ...!
Beijo de LUSIBERO

Ana Paula Sena disse...

Passo para deixar um abraço grato pela bela poesia :))