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segunda-feira, 19 de julho de 2010

Como quem num dia de verão abre a porta de casa e espreita para o calor dos campos


Verão
Alberto Caeiro
Heterônimo de Fernando Pessoa (1888-1935)

Como quem num dia de Verão abre a porta de casa
e espreita para o calor dos campos com a cara toda,
às vezes de repente, bate-me a Natureza de chapa
na cara dos meus sentidos,
e eu fico confuso, perturbado, querendo perceber
não sei bem como nem o quê.
Mas quem me mandou a mim querer perceber?Quem me disse que havia de perceber?
Quando o verão me passa pela cara
a mão leve e quente de sua brisa,
só tenho que sentir agrado porque é brisa
ou que sentir desagrado porque é quente,
e de qualquer maneira que eu o sinta,
assim, porque assim o sinto, é que é
meu dever senti-lo...