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domingo, 29 de setembro de 2013

No entardecer da terra



No entardecer da terra
o sopro do longo Outono
amareleceu o chão.
Um vago vento erra,
como um sonho mau num sono,
na lívida solidão.
soergue as folhas, e pousa
as folhas, e volve, e revolve,
e esvai-se inda outra vez.
Mas a folha não repousa,
e o vento lívido volve
e expira na lividez.
Eu já não sou quem era;
o que eu sonhei, morri-o;
E até do que hoje sou
amanhã direi, quem dera
volver a sê-lo! ... Mais frio
o vento vago voltou.


Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.)Lisboa: Ática,1942(15ª ed. 1995).
- 91.
1ª publ. in Ilustração Portuguesa , 2ª série, nº 83. Lisboa: 28-1-1922.