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terça-feira, 30 de junho de 2015

A poesia não vai à missa


                                                       Foto: Google



A poesia não vai à missa,
não obedece ao sino da paróquia,
prefere atiçar os seus cães
às pernas de deus e dos cobradores
de impostos.
Língua de fogo do não,
caminho estreito
e surdo da abdicação, a poesia
é uma espécie de animal
no escuro recusando a mão
que o chama.
Animal solitário, às vezes
irónico, às vezes amável,
quase sempre paciente e sem piedade.
A poesia adora
andar descalça nas areias do Verão.


Eugénio de Andrade

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Kid studying on Cebu sidewalk inspires netizens


WONDER BOY. Daniel studies in deep concentration along one of the sidewalks in Cebu City. Photo from Joyce Torrefranca's Facebook account

(UPDATED) Under the lights of a nearby fast food restaurant, the young boy diligently works on his homework
MANILA, Philippines (UPDATED) – A photo of a child studying outside a fast food restaurant is currently making its rounds on social media.
Nine-year-old Daniel Cabrera was pictured while sitting on his legs, a look of concentration on his face as he writes on an open book. He was using a wooden bench as a makeshift table along the sidewalk beside a Mcdonald's branch in theMandaue Reclamation Area.
Joyce Torrefranca took Daniel's picture on Tuesday night, June 23, and posted it oTorrefranca is a student at Cebu Doctors' University. She said Daniel inspired her to study harder as she prepares for an exam.
"As a student, it gave me an inspiration to work harder. I'm fortunate my parents were able to send me to school. I seldom go to coffee shops to study, but this kid just hit me. You really don't need much, you just have to be determined and focused on the things that you want to achieve," Torrefranca told Rappler.
"I hope that this kid will inspire millions of people," she said.
. “I was able to talk to this kid moments after Joyce took this snapshot,” commented Giomen Probert Ladra Alayon on Torrefranca’s post.
Nagstudy siya ug English. More like a homework: identify the animal illustrated," according to Alayon, who was with Torrefranca when she took the picture. (He is studying English. It’s more of like a homework: identify the animal illustrated.)
In a telephone interview, Mcdonald's Mandaue Reclamation Area restaurant manager Iris Prak said that Daniel, his mother, and his 7-year-old brother Gabriel usually stay outside Mcdonald's to beg from passers-by.
The brothers do their homework there after school because they do not have electricity at home. Prak said that sometimes, the boys' mother works at a nearby food stall, where the family of 3 usually sleeps at night.
"Normally, nanghihingi sila ng water, so binibigyan po namin sila (Normally they ask for water, so we give them water)," shared Prak, adding that the Cabreras are free to hang around the restaurant.
She added: "Gusto kasi ni Daniel ng toys. Sabi ko sa kanya na if ever na makapagbigay siya ng paper na merong star, bibigyan namin siya ng toy, pati 'yung kapatid niya."
(Daniel wants to get a toy. I told him that if he will be able to show us a paper with a star, we'll give him and his brother toys.)
Mcdonald's Philippines public relations and communications manager Adi Timbol said she is happy with the branch staff's reception of the family.
"I felt happy and proud of the store [because] they do what they can to be of assistance to the child even in a little way," she told Rappler through a phone interview.
'Keep it up kid'
Alayon said that the kid’s perseverance in studying makes the photos a source of inspiration.
“Despite the lack of personal space or inadequate lighting, he still chose to study,” he said.
“Keep it up kid! Mabuhay!
Another Facebook user, Norman Hams Hicban, posted Torrefranca’s photo on his Facebook account on Wednesday, June 24. It has since garnered more than 29,600 likes and 7,500 shares.
Several social media users praised the young boy.
"The kid will have a very bright future....with so much willing to help. He will be amazing for sure!! God bless him!" said Dotti Manalo Libiran.
"I see a good leader in progress. Keep it up kid!" commented Cecil Benavente.

domingo, 14 de junho de 2015

Estar fechado em si mesmo cansa.

                                             Foto: Google

Estar fechado em si mesmo cansa.
Sou um evadido.
Logo que nasci
fecharam-me em mim,
ah, mas eu fugi.
Se a gente se cansa
do mesmo lugar,
do mesmo ser
Por que não se cansar?
Minha alma procura-me
mas eu ando a monte,
oxalá que ela
nunca me encontre.
Ser um é cadeia,
ser eu não é ser.
Viverei fugindo
mas vivo a valer.
5-4-1931
Poesias Inéditas (1930-1935). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1955 (imp. 1990).

 - 44.

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Isto também é ser mãe !!!

                                          Foto: Google

Mensagem do meu filho, que vive no estrangeiro.

( Uma amiga minha partilhou no facebook uma citação do Dailai Lama, que me fez lembrar de ti.

"Dê a quem ama:

- asas para voar...

- raízes para voltar ...

- motivos para ficar...
Dailai Lama

Amo-te muito mãe, tem um óptimo dia, beijinho grande do teu filho )


Isto também é ser mãe !!!

Quando o nosso filho se lembra de nós ao ler um pensamento profundo e belo como este.

Reconhece que o que sentimos por dentro é o segredo da nossa serenidade.

Obrigada meu filho, por mais este afago no o meu coração.


quarta-feira, 3 de junho de 2015

Onde está Deus, mesmo que não exista?

       
                                                 Foto: Google


Onde está Deus, mesmo que não exista? Quero rezar e chorar, arrepender-me de crimes que não cometi, gozar ser perdoado como uma carícia não propriamente materna.

Um regaço para chorar, mas um regaço enorme, sem forma, espaçoso como uma noite de Verão, e contudo próximo, quente, feminino, ao pé de uma lareira qualquer... Poder ali chorar coisas impensáveis, falências que nem sei quais são, ternuras de coisas inexistentes, e grandes dúvidas arrepiadas de não sei que futuro...

Uma infância nova, uma ama velha outra vez, e um leito pequeno onde acabe por dormir, entre contos que embalam, mal ouvidos, com uma atenção que se torna morna, os perigos que penetravam em jovens cabelos louros como o trigo... E tudo isto muito grande, muito eterno, definitivo para sempre, da estatura única de Deus, lá no fundo triste e sonolento da realidade última das coisas...

Um colo ou um berço ou um braço quente em torno ao meu pescoço... Uma voz que canta baixo e parece querer fazer-me chorar... O ruído de lume na lareira... Um calor no Inverno... Um extravio morno da minha consciência... E depois sem som, um sonho calmo num espaço enorme, como a lua rodando entre estrelas...

Quando ponho de parte os meus artifícios e arrumo a um canto, com um cuidado cheio de carinho — com vontade de lhes dar beijos — os meus brinquedos, as palavras, as imagens, as frases — fico tão pequeno e inofensivo, tão só num quarto tão grande e tão triste, tão profundamente triste! ...

Afinal eu quem sou, quando não brinco? Um pobre órfão abandonado nas ruas das sensações, tiritando de frio às esquinas da Realidade, tendo que dormir nos degraus da Tristeza e comer o pão dado da Fantasia. De um pai sei o nome; disseram -me que se chamava Deus, mas o nome não me dá ideia de nada. Às vezes, na noite, quando me sinto só, chamo por ele e choro, e faço-me uma ideia dele a quem possa amar... Mas depois penso que o não conheço, que talvez ele não seja assim, que talvez não seja nunca esse o pai da minha alma...

Quando acabará isto tudo, estas ruas onde arrasto a minha miséria, e estes degraus onde encolho o meu frio e sinto as mãos da noite por entre os meus farrapos? Se um dia Deus me viesse buscar e me levasse para sua casa e me desse calor e afeição... Às vezes penso isto e choro com alegria a pensar que o posso pensar... Mas o vento arrasta-se pela rua fora e as folhas caem no passeio... Ergo os olhos e vejo as estrelas que não têm sentido nenhum... E de tudo isto fico apenas eu, uma pobre criança abandonada, que nenhum Amor quis para seu filho adoptivo, nem nenhuma Amizade para seu companheiro de brinquedos.

Tenho frio de mais. Estou tão cansado no meu abandono. Vai buscar, O Vento, a minha Mãe. Leva-me na Noite para a casa que não conheci... Torna a dar-me ó Silêncio imenso, a minha ama e o meu berço e a minha canção com que dormia...

s.d.

Livro do Desassossego por Bernardo Soares. Vol.II. Fernando Pessoa. (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982.