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domingo, 18 de dezembro de 2016

Natal


Foto:Google


NATAL

Um anjo imaginado,
um anjo dialéctico, actual,
ergueu a mão e disse: - É noite de Natal,
paz à imaginação!

E todo o ritual
que antecede o milagre habitual
perdeu a exaltação.

Em vez de excelsos hinos de confiança
no mistério divino,
e de mirra, e de incenso e oiro
derramados
no presépio vazio,
duas perguntas brancas, regeladas
como a neve que cai,
e breves como o vento
que entra por uma fresta, quezilento,
redemoinha e sai:

À volta da lareira
quantas almas se aquecem
fraternamente?

Quantas desejam que o Menino venha
ouvir humanamente
o lancinante crepitar da lenha?


Miguel Torga – Natal 1962