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domingo, 20 de agosto de 2017

Paira no tempo, como o pó suspenso


                                         Foto: Google

Nem tudo é lei da vida ou lei da morte.
Há limbos onde o homem desconhece
Essa dimensão hostil.
É quando ama, ou sonha, ou faz poemas,
E a própria natureza o não domina.
Então, livre e perfeito,
Paira no tempo como o pó suspenso.
Nem céu, nem terra, nem sujeito
Ao pesadelo de nenhum consenso.


Miguel Torga in “Diário VII”

domingo, 25 de junho de 2017

Sê paciente, espera que a palavra amadureça


                                         Foto: Google



Conselho



Sê paciente; espera 
que a palavra amadureça 
e se desprenda como um fruto 
ao passar o vento que a mereça.


Eugénio de Andrade

sábado, 13 de maio de 2017

O mundo é de quem não sente

                                                       

                                                       
                                                          Foto:google

«O mundo é de quem não sente. A condição essencial para se ser um homem prático é a ausência de sensibilidade. A qualidade principal na prática da vida é aquela qualidade que conduz à acção, isto é, a vontade. Ora há duas coisas que estorvam a acção — a sensibilidade e o pensamento analítico, que não é, afinal, mais que o pensamento com sensibilidade. Toda a acção é, por sua natureza, a projecção da personalidade sobre o mundo externo, e como o mundo externo é em grande e principal parte composto por entes humanos, segue que essa projecção da personalidade é essencialmente o atravessarmo-nos no caminho alheio, o estorvar, ferir e esmagar os outros, conforme o nosso modo de agir.»


in Livro do Desassossego (fragmento 303)- Fernando Pessoa

sábado, 28 de janeiro de 2017

Lisboa

                                           Foto: Google

Lisboa

Alguém diz com lentidão:
"Lisboa, sabes..."
Eu sei. É uma rapariga
descalça e leve,
...um vento súbito e claro
nos cabelos,
algumas rugas finas
a espreitar-lhe os olhos,
a solidão aberta
nos lábios e nos dedos,
descendo degraus
e degraus
e degraus até ao rio.
Eu sei. E tu, sabias?

(Eugénio de Andrade
)