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domingo, 11 de novembro de 2018

meto-me para dentro



Meto-me para dentro, e fecho a janela. 
Trazem o candeeiro e dão as boas noites, 
E a minha voz contente dá as boas noites. 
Oxalá a minha vida seja sempre isto: 
O dia cheio de sol, ou suave de chuva, 
Ou tempestuoso como se acabasse o Mundo, 
A tarde suave e os ranchos que passam 
Fitados com interesse da janela, 
O último olhar amigo dado ao sossego das árvores, 
E depois, fechada a janela, o candeeiro aceso, 
Sem ler nada, nem pensar em nada, nem dormir, 
Sentir a vida correr por mim como um rio por seu leito. 
E lá fora um grande silêncio como um deus que dorme. 

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XLIX" 
Heterónimo de Fernando Pessoa