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Olhos postos na terra, tu virás
no ritmo da própria primavera,
e como as flores e os animais
abrirás nas mãos de quem te espera.
Eugénio de Andrade, As Mãos e Os Frutos, Limiar, p. 41
Olhos postos na terra, tu virás
no ritmo da própria primavera,
e como as flores e os animais
abrirás nas mãos de quem te espera.
Eugénio de Andrade, As Mãos e Os Frutos, Limiar, p. 41
Gente que não necessita
de uma única palavra que brilhe.
Gente que ri confiante e falsa
em plena noite de luto. O frio sobre os telhados
de quem ainda os possui.
Gente que não é planeta
e move-se em torno de uma estrela
de pontas negras e insidiosas. Porém, cintilante
no céu onde pairam apenas parasitas.
Gente que não necessita de poemas,
bárbaros ou não,
o poema, uma espada de balão
esgrimida pelo palhaço triste,
desempregado.
Gente mínima no assalto aos pináculos
da presunção,
os pés sujos de lodo,
o sangue inocente nas mãos.
Gente que…
Gente?...
Em volta, viçosas ervas daninhas
bailando como soturnas plumas
na floresta de todos os enganos.
Lídia Borges – Blog Searas de Versos
Foto: Google
No silêncio dos olhos
Em que língua se diz, em que nação,
Em que outra humanidade se aprendeu
A palavra que ordene a confusão
Que neste remoinho se teceu?
Que murmúrio de vento, que dourados
Cantos de ave pousada em altos ramos
Dirão, em som, as coisas que, calados,
No silêncio dos olhos confessamos?
– José Saramago, em “Os poemas possíveis”. 3ª ed., Lisboa: Editorial Caminho,
1981.