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Devo à paisagem as poucas alegrias que tive no mundo. Os
homens só me deram tristezas. Ou eu nunca os entendi, ou eles nunca me
entenderam. A terra, com os seus vestidos e as suas pregas, essa foi sempre
generosa.
As dobras, e as
cores do chão onde firmo os pés, foram sempre no meu espírito coisas sagradas e
íntimas como o amor. Vivo a natureza integrado nela. De tal modo, que chego a
sentir-me, em certas ocasiões, pedra, orvalho, flor ou nevoeiro. Nenhum outro
espetáculo me dá semelhante plenitude e cria no meu espírito um sentido tão
acabado do perfeito e do eterno.
Miguel Torga, in "Diário (1942)"