terça-feira, 24 de abril de 2012
Já Foste Rico e Forte e Soberano
Já foste rico e forte e soberano,
já deste leis a mundos e nações,
heróico Portugal, que o gram Camões
Cantou, como o não pôde um ser humano!
Zombando do furor do mar insano,
os teus nautas, em fracos galeões,
descobriram longínquas regiões,
perdidas na amplidão do vasto oceano.
Hoje vejo-te triste e abatido,
e quem sabe se choras, ou então,
relembras com saudade o tempo ido?
Mas a queda fatal não temas, não.
Porque o teu povo, outrora tão temido,
ainda tem ardor no coração.
Saúl Dias, in "Dispersos (Primeiros Poemas)"
quarta-feira, 4 de abril de 2012
Uma sociedade pacífica de revoltados
"É um fenómeno curioso: o país ergue-se indignado, moureja o dia inteiro indignado, come, bebe e diverte-se indignado, mas não passa disto. Falta-lhe o romantismo cívico da agressão.
Somos, socialmente, uma sociedade pacífica de revoltados"
Miguel Torga, Diário (17.09.1961)
Imagem -(Operários de Tarsila do Amaral
domingo, 1 de abril de 2012
Portugal

Avivo no teu rosto o rosto que me deste,
e torno mais real o rosto que te dou.
Mostro aos olhos que não te desfigura
quem te desfigurou.
Criatura da tua criatura,
serás sempre o que sou.
E eu sou a liberdade dum perfil
desenhado no mar.
Ondulo e permaneço.
Cavo, remo, imagino,
e descubro na bruma o meu destino
que de antemão conheço:
Teimoso aventureiro da ilusão,
surdo às razões do tempo e da fortuna,
achar sem nunca achar o que procuro,
exilado na gávea do futuro,
mais alta ainda do que no passado.
Miguel Torga, in 'Diário X'
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