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domingo, 1 de abril de 2012

Portugal


Avivo no teu rosto o rosto que me deste,
e torno mais real o rosto que te dou.
Mostro aos olhos que não te desfigura
quem te desfigurou.
Criatura da tua criatura,
serás sempre o que sou.

E eu sou a liberdade dum perfil
desenhado no mar.
Ondulo e permaneço.
Cavo, remo, imagino,
e descubro na bruma o meu destino
que de antemão conheço:

Teimoso aventureiro da ilusão,
surdo às razões do tempo e da fortuna,
achar sem nunca achar o que procuro,
exilado na gávea do futuro,
mais alta ainda do que no passado.

Miguel Torga, in 'Diário X'