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NATAL
Um anjo imaginado,
um anjo dialéctico, actual,
ergueu a mão e disse: - É noite de Natal,
paz à imaginação!
Um anjo imaginado,
um anjo dialéctico, actual,
ergueu a mão e disse: - É noite de Natal,
paz à imaginação!
E todo o ritual
que antecede o milagre habitual
perdeu a exaltação.
Em vez de excelsos hinos de confiança
no mistério divino,
e de mirra, e de incenso e oiro
derramados
no presépio vazio,
duas perguntas brancas, regeladas
como a neve que cai,
e breves como o vento
que entra por uma fresta, quezilento,
redemoinha e sai:
À volta da lareira
quantas almas se aquecem
fraternamente?
Quantas desejam que o Menino venha
ouvir humanamente
o lancinante crepitar da lenha?
Miguel Torga – Natal 1962