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quarta-feira, 27 de abril de 2022

Devo à Paisagem as Poucas Alegrias que Tive no Mundo


                                             Foto: Google


Devo à paisagem as poucas alegrias que tive no mundo. Os homens só me deram tristezas. Ou eu nunca os entendi, ou eles nunca me entenderam. A terra, com os seus vestidos e as suas pregas, essa foi sempre generosa.

 As dobras, e as cores do chão onde firmo os pés, foram sempre no meu espírito coisas sagradas e íntimas como o amor. Vivo a natureza integrado nela. De tal modo, que chego a sentir-me, em certas ocasiões, pedra, orvalho, flor ou nevoeiro. Nenhum outro espetáculo me dá semelhante plenitude e cria no meu espírito um sentido tão acabado do perfeito e do eterno.


Miguel Torga, in "Diário (1942)"