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sábado, 12 de julho de 2025

O silêncio que perdemos


                                               Foto: Google


O silêncio que perdemos

 

O crescimento das cidades, o aumento do ruído provocado pelas máquinas e a maior densidade populacional contribuíram para que o silêncio se tornasse mais difícil de alcançar e, por isso, mais valorizado em determinados ambientes.

Atualmente, é difícil ficar em silêncio. A sociedade insta à submissão ao ruído a fim de se tornar parte do todo, em vez de se manter à escuta de si mesmo.

Alain Corbin convida-nos a redescobrir o silêncio — não como ausência de ruído, mas como um espaço de calma, reflexão e presença.

O silêncio não é apenas ausência de ruído. Nós quase o esquecemos. As referências auditivas desnaturaram-se, enfraqueceram, dessacralizaram-se. Intensificaram-se o medo ou mesmo o terror suscitados pelo silêncio.

No passado, os ocidentais desfrutavam a profundidade e o sabor do silêncio. Consideravam-no como condição do recolhimento, da escuta de si mesmo, da meditação, da oração, do devaneio, da criação; sobretudo como lugar íntimo do qual a palavra emerge. Especificavam as suas táticas sociais. A pintura era para eles palavra de silêncio.

A intimidade dos lugares, a do quarto e dos seus objetos, como a da casa, era atravessada pelo silêncio.

Os silêncios da natureza, certos sons, fazem ressoar o silêncio e conferem, ao mesmo tempo, profundidade ao espaço.

Todos os ruídos que se elevam na vastidão do campo, chegam ao ouvido graças a esse silêncio: são cânticos de trabalho, vozes de crianças, pios e refrãos de animais e de tempos a tempos um cão que ladra (…) Fez-se um grande silêncio e ouço como que as vozes de mil lembranças suaves e tocantes, que se elevam no passado longínquo e vêm sussurrar aos meus ouvidos.

Quando passeia pelos bosques ou no campo, sente que o som é quase idêntico ao silêncio. As coisas da natureza estão cheias de silêncio.

A evocação do silêncio passado, das modalidades da sua busca, das suas texturas, das suas disciplinas, das suas táticas, da sua riqueza e da força da sua palavra pode contribuir para reaprender a estar em silêncio, ou seja, a sermos nós mesmos.

 

Alain Corbin - História do Silêncio