
Como se morre de velhice
ou de acidente ou de doença,
morro, Senhor, de indiferença.
Na indiferença deste mundo
onde o que se sente e se pensa
não tem eco, na ausência imensa.
Na ausência, areia movediça
onde se escreve igual sentença
para o que é vencido e o que vença.
Salva-me, Senhor, do horizonte
sem estímulo ou recompensa
onde o amor equivale à ofensa.
De boca amarga e de alma triste
sinto a minha própria presença
num céu de loucura suspensa.
(já não se morre de velhice
nem de acidente, nem de doença,
mas, Senhor, só de indifrença).
Cecília Meireles
5 comentários:
Dramática
a indiferença
e o medo
.
E como isso dói!
Morre-se de indiferença e de solidão:(
Beijinho.
Cecília Meireles a lembrar-nos que o poema também serve como uma prece pela indiferença com que olhamos os outros.
m beijo.
Morremos com a mesma indiferença com que matamos...por vezes.
Uma bela partilha de um poema forte de uma poeta doce e incisiva.
Obrigada
Um beijo
Olá :)
Gosto muito da poesia de Cecília Meireles.
A indiferença é um dos piores males do mundo, quando ela existe perante o outro, o seu sofrimento e o seu abandono.
Deixo um beijinho.
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