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domingo, 30 de julho de 2023

Não sabias: imagina…

 

                                               Foto: Google


Não sabias: imagina…

Deixa falar o mestre, e devaneia…

A velhice é que sabe, e apenas sabe

Que o mar não cabe

Na poça que a inocência abre na areia.

Sonha!

Inventa um alfabeto

De ilusões…

Um á-bê-cê secreto

Que soletres à margem das lições…

Voa pela janela

De encontro a qualquer sol que te sorri!

Asas? Não são precisas:

Vais ao colo das brisas,

Aias da fantasia…

 

Miguel Torga, Diário IX


sexta-feira, 21 de julho de 2023

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa

Foto: Google



 

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.

Quando se vê, já são 6 horas: há tempo…

Quando se vê, já é 6ª-feira…

Quando se vê, passaram 60 anos!

Agora, é tarde demais para ser reprovado…

E se me dessem – um dia – uma outra oportunidade,

eu nem olhava o relógio

seguia sempre em frente…

E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas.

 

Mário Quintana (1906 — 1994) foi um importante poeta brasileiro, nascido do Rio Grande do Sul, que conquistou o amor do público nacional com as suas composições curtas e cheias de sabedoria.

Este é um dos seus poemas mais populares e carrega uma grande lição de vida: muitas vezes, vamos adiando aquilo que queremos ou precisamos fazer, porque achamos que depois teremos mais disponibilidade.

No entanto, o sujeito alerta os leitores para o modo como o tempo passa rapidamente por nós e não espera por ninguém. Por isso, é necessário aproveitarmos e valorizarmos cada segundo em que estamos vivos.


sábado, 1 de julho de 2023

Amostra sem valor


                                                Foto: Google



Amostra sem valor

Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.

Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível:

com ele se entretém

e se julga intangível.

 

Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,

sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,

que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,

não pesa num total que tende para infinito.

 

Eu sei que as dimensões impiedosos da Vida

ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,

nesta insignificância, gratuita e desvalida,

Universo sou eu, com nebulosas e tudo.

 

 António GEDEÃO (1968:p.309),  Poesias Completas, 2 ed.