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sábado, 4 de dezembro de 2010

Quando está frio no tempo do frio
















Quando está frio no tempo do frio, para mim é como se estivesse agradável,
Porque para o meu ser adequado à existência das cousas
O natural é o agradável só por ser natural.

Aceito as dificuldades da vida porque são o destino,
Como aceito o frio excessivo no alto do Inverno —
Calmamente, sem me queixar, como quem meramente aceita,
E encontra uma alegria no fato de aceitar —
No fato sublimemente científico e difícil de aceitar o natural inevitável.

Que são para mim as doenças que tenho e o mal que me acontece
Senão o Inverno da minha pessoa e da minha vida?
O Inverno irregular, cujas leis de aparecimento desconheço,
Mas que existe para mim em virtude da mesma fatalidade sublime,
Da mesma inevitável exterioridade a mim,
Que o calor da terra no alto do Verão
E o frio da terra no cimo do Inverno.

Aceito por personalidade.
Nasci sujeito como os outros a erros e a defeitos,
Mas nunca ao erro de querer compreender demais,
Nunca ao erro de querer compreender só corri a inteligência,
Nunca ao defeito de exigir do Mundo
Que fosse qualquer cousa que não fosse o Mundo.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A verdade



A Verdade

A porta da verdade estava aberta,
Mas só deixava passar
Meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
Porque a meia pessoa que entrava
Só trazia o perfil de meia verdade,
E a sua segunda metade
Voltava igualmente com meios perfis
E os meios perfis não coincidiam verdade...
Arrebentaram a porta.
Derrubaram a porta,
Chegaram ao lugar luminoso
Onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
Diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual
a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela
E carecia optar.
Cada um optou conforme
Seu capricho,
sua ilusão,
sua miopia.
(Carlos Drummond de Andrade)

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Ainda que os teus passos te pareçam inúteis





Ainda que os teus passos pareçam inúteis, vai abrindo caminhos, como a água que desce cantando da montanha. Outros te seguirão...

(Saint-Exupéry)

sábado, 2 de outubro de 2010

E agora José?







E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto José
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

Carlos Drummond de Andrade




quinta-feira, 16 de setembro de 2010

À sombra de Setembro


Sei de uma pedra onde me sentar
à sombra de Setembro
e vou falar dos girassóis,
essa flor quase de areia
que ombro a ombro com o sol
faz do peso da sua solidão
o ardor
e a glória dos grandes dias de verão.
Eugénio de Andrade - O peso da sombra (1982)

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Como quem num dia de verão abre a porta de casa e espreita para o calor dos campos


Verão
Alberto Caeiro
Heterônimo de Fernando Pessoa (1888-1935)

Como quem num dia de Verão abre a porta de casa
e espreita para o calor dos campos com a cara toda,
às vezes de repente, bate-me a Natureza de chapa
na cara dos meus sentidos,
e eu fico confuso, perturbado, querendo perceber
não sei bem como nem o quê.
Mas quem me mandou a mim querer perceber?Quem me disse que havia de perceber?
Quando o verão me passa pela cara
a mão leve e quente de sua brisa,
só tenho que sentir agrado porque é brisa
ou que sentir desagrado porque é quente,
e de qualquer maneira que eu o sinta,
assim, porque assim o sinto, é que é
meu dever senti-lo...

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Progresso tecnológico versus regressão humana



Net pode estupidificar o cérebro
A frase é forte, altamente contestada e é proferida por um adepto confesso das novas tecnologias e respeitado especialista em questões relacionadas com a vida na Web. O seu nome é Nicholas Carr, e o seu último livro, apoiado em inúmeras experiências científicas, afirma que “estamos a treinar os nossos cérebros para prestar atenção a tudo o que não interessa”. É que a explosão de tecnologia digital não só alterou a forma como vivemos e comunicamos, como também a nossa actividade cerebralPOR HELENA OLIVEIRA
© DR



No início de 2009, num estudo publicado pela revista Science, uma famosa psicóloga do desenvolvimento, Patrícia Greenfield, avaliou mais de 40 estudos sobre os efeitos dos vários tipos de media em correlação com a inteligência e a capacidade de aprendizagem. Uma das suas conclusões foi a de que “cada meio desenvolve algumas competências cognitivas em detrimento de outras”. A utilização crescente da internet e de outras tecnologias com base em ecrãs, escreve, levou a “um desenvolvimento generalizado e sofisticado das nossas competências espaciais e visuais”. Contudo, esses ganhos caminham de mãos dadas com um enfraquecimento da nossa capacidade de “processamento aprofundado” que sustenta a “aquisição cuidadosa de conhecimentos, análise indutiva, pensamento crítico, imaginação e reflexão”.
Se o leitor conseguiu ler este parágrafo sem ter a tentação de abrir o seu email, de responder a um tweet, de visitar o Facebook ou de ver algum vídeo no YouTube, parabéns, pois ainda não está totalmente rendido ao vício e à distracção crónica. Mas e voltando ao estudo acima citado, afinal não concordámos todos que a Internet abriu portas a todo o conhecimento do mundo, aumentou a nossa produtividade para níveis jamais vistos e contribuiu para todos nós sermos mais informados e conhecedores da realidade? De acordo com o autor de The Shallows: what the Internet is doing to our brains, a questão das multi-tarefas que é permitida e encorajada por todos os dispositivos digitais que temos ao nosso dispor serve, supostamente, para aumentar a nossa produtividade mas, muitas vezes, acaba por a diminuir. “Quando nos ligamos à Internet, entramos num ambiente que promove a leitura apressada, um tipo de pensamento ‘às pressas’ e distraído e a aprendizagem superficial”, escreve. Para o autor, a leitura é feita a partir de um padrão em “F”: depois de lermos as duas primeiras linhas de um texto, o mais comum é que os nossos olhos desçam até ao final da página. E isto explica-se pelo facto de estarmos a perder a capacidade de transferir o conhecimento da memória “em trabalho” de curto prazo para a memória de longo prazo, a qual é responsável por modelar as nossas perspectivas e visões de forma duradoura. Ou seja e de forma simples, o que ganhamos em quantidade de informação disponível, perdemos na forma como a deixámos de aprofundar.
As premissas de Nicholas Carr não são novas. Em 2008, publicou um artigo na revista The Atlantic, no qual argumentava que devido à constante enchente de estímulos digitais a que estamos voluntariamente sujeitos, as conexões no nosso cérebro estão a ser profundamente alteradas. Enquanto somos obrigados a escolher, por entre inúmeros links promissores, na altura em que os nossos olhos são atingidos por anúncios que aparecem subitamente no ecrã, quando não nos contemos e somos compulsivamente convidados a ligar o Facebook ou a abrir um vídeo altamente recomendado pelos nossos pares, em todo este processo estamos igualmente a destruir a nossa capacidade neurológica para recordar e reter factos ou para digerirmos convenientemente o banquete de informação a que fomos expostos.
Progresso tecnológico versus regressão humanaComo Nicholas Carr nos relembra, são muitos os pensadores que, ao longo das épocas, perceberam que as ferramentas que temos ao nosso dispor alteram os nossos pensamentos. Platão era um deles. Marshall McLuahn era outro. Mas quem o afirma agora é um especialista em tecnologia, um bloguer prolifero e um pensador reconhecido que adopta uma atitude tão fatalista em relação à tecnologia que nos faz quase ter medo de, num instantinho, irmos consultar o email. Neste momento da História, Nicholas Carr considera o advento da Internet “não só como um progresso da tecnologia, mas também como uma forma de regressão humana”. Nesta perspectiva antropológica, Carr vai até mas longe e, metaforizando, afirma que estamos a regressar à trajectória inicial da civilização. Ou seja, de cultivadores de conhecimento pessoal, estamo-nos a transformar em caçadores/recolectores da floresta das informações electrónicas”.
“Quando nos ligamos à Internet, entramos num ambiente que promove a leitura apressada, um tipo de pensamento ‘às pressas’ e distraído e a aprendizagem superficial”
A equivalência entre ferramentas e a forma como o nosso cérebro se adapta às mesmas, sofrendo alterações, é facilmente comprovada: se a invenção do relógio, alterou a nossa concepção do tempo, se os mapas tornaram diferente o espaço desde que foram inventados e se a falta de visão de Friedrich Nietzsche o obrigou a optar pela máquina de escrever em detrimento da escrita à mão, o que alterou completamente o seu estilo, é passivo afirmar-se que as nossas ferramentas e as nossas competências se alteram porque estamos a utilizar novas conexões no nosso cérebro. A esta maravilha humana chama-se plasticidade ou maleabilidade cerebral e os efeitos culturais e neurobiológicos que daqui resultam são, de forma crescente, cada vez mais observáveis.Os neurocientistas há muito que sabem que o cérebro humano e extremamente plástico. “Os neurónios e as sinapses mudam quando as circunstâncias se alteram. E quando nos adaptamos a novos fenómenos culturais, incluindo a utilização de um novo meio, acabamos por ficar com um novo cérebro”, afirma Michael Merzenich, um pioneiro no campo da neuroplasticidade e um dos investigadores que contribuiu para o livro de Carr. “E isso significa que os nossos hábitos online continuam a ‘ressoar’ enquanto as células do nosso cérebro trabalham mesmo depois de nos desligarmos do mundo virtual”. No que respeita à plasticidade e aos meios, o que Carr defende é que enquanto mantivemos mais ou menos o mesmo número de horas ligados à televisão, a leitura ficou absolutamente para trás e a Net ocupa agora lugar privilegiado. Daí o especialista afirmar que enquanto a Web fortalece aquilo que ele denomina como as nossas funções mentais mais “primitivas” – uma tomada de decisão mais rápida a par da resolução célere de problemas – enfraquece as funções mais intelectuais, principalmente aquelas que estão relacionadas com a leitura e, por consequência, com a linguagem, a memória e o processamento visual. E esta mudança pode ser observada em scans cerebrais. A Internet estimula a distracção, a interrupção e o saltitar de assunto em assunto.Contudo, e para os que criticam vivamente as novas premissas do fatalismo tecnológico de Nicholas Carr, a Web oferece-nos também um excedente cognitivo. Ou seja, existem certas competências neurológicas que são realmente fortalecidas pela utilização da Internet. Um dos estudos mais citados no que respeita aos videojogos, por exemplo, publicado em 2003 na revista Nature, concluiu que depois de 10 dias a jogar jogos de acção em computadores, um grupo de jovens aumentou significativamente a velocidade mediante a qual conseguia alternar o seu enfoque visual por entre várias imagens e tarefas. Um outro estudo, mais recente, e que envolveu mulheres inglesas que pesquisavam informação médica online indicou que quanto mais experiente for o utilizador da Internet, mais exactas são as suas escolhas e melhor é a avaliação das suas escolhas relativamente às páginas da Web. Ou seja, quanto mais navegamos, melhor se adapta o nosso cérebro no que respeita a estas mesmas tarefas.

Mas seria um enorme erro, de acordo com Nicholas Carr, tomar em linha de conta estes benefícios e afirmar que a Net nos torna mais inteligentes. Para o neurocientista Clifford Nass, um professor de Stanford que tem vindo a fazer experiências entre utilizadores “hard” de Internet versus os mais “soft”, tornou-se claro que os primeiros se distraem muito mais, possuem uma perda de controlo significativa no que respeita à sua memória “trabalhadora” e, na generalidade, são muito menos capazes de se concentrar numa só tarefa. Nass afirma que estes multi-tarefas intensivos são “sugadouros de irrelevâncias”, pois tudo os distrai. Opinião secundada por Michael Merzenich, que afirma que enquanto operamos múltiplas tarefas na Net, estamos a “treinar os nossos cérebros para prestar atenção a tudo o que é lixo”.O preço mental que pagamosAs polémicas relativamente a novos fenómenos culturais ou de comunicação sempre existiram. Nos anos 50, os pais dos adolescentes morriam de medo relativamente ao mal que o rock poderia fazer à cabeça dos seus filhos; nos anos 70, todos se interrogavam sobre os efeitos prejudiciais que a televisão teria nas crianças; nos anos 90, existiu uma sociopatologia relativamente à música e às mensagens veiculadas pelos rappers. Mas a verdade é que a nova polémica em torno das premissas de Carr está, tanto quanto possível, cientificamente sustentada.
“De cultivadores de conhecimento pessoal, estamo-nos a transformar em caçadores / recolectores da floresta das informações electrónicas”.
Mas também existem outras provas cientificas que indicam o contrário. O autor Don Tapscott, por exemplo, tem vindo a afirmar, há já vários anos e de acordo com milhares de entrevistas que tem feito à denominada geração net, que principalmente entre os zero e os três anos e os oito e os 18, graças à exposição às novas tecnologias, as sinapses cerebrais alteram-se, existindo cada vez mais evidências que apontam para que os cérebros da geração net estejam a conseguir ultrapassar aquilo que convencionalmente se apelida de “limitações da capacidade”. Uma outra curiosidade interessante referida por Tapscott e que decorreu de um inquérito realizado pelo próprio, afirma que 69% dos jovens entrevistados preferiam ser mais espertos e apenas 31% mais bem-parecidos. Sim, é verdade, estes jovens pensam de maneira diferente. Preferem a net à televisão, e “vêem” esta última de uma forma completamente distinta, normalmente não com o ecrã à frente dos olhos, mas nas suas costas. Também não têm a mínima paciência para anúncios. E tudo isto porquê? Porque têm as suas próprias normas: liberdade, customização, escrutínio, integridade, colaboração, entretenimento, velocidade e inovação são as características que os distinguem e que lhes confere uma nova identidade.
Ou seja, a “nossa” geração, que teve uma infância analógica e entrou na era digital já na idade adulta, parece ser a que mais preocupa Nicholas Carr. Mas há que realçar que o autor não renega os benefícios da Internet, apenas alerta que o preço a pagar pode ser alto. O problema é que o mecanismo cerebral que selecciona minuciosamente - por entre a avalanche de informação em tempo real que inunda os nossos sentidos - o que é mais importante para ser incorporado na nossa memória de longo prazo, não tem “espaço nem capacidade suficiente” para lidar com um website a abarrotar de links, vídeos e RSS feeds.Enquanto a mente de um leitor de um livro considera aquilo que é importante de acordo com o seu próprio ritmo, o cérebro do Netizen (“cidadão” da Internet) tem de fazer opções muito mais rápida e aleatoriamente. O resultado cifra-se na diminuição da nossa capacidade para retermos o máximo do que é importante, na medida em que nos tornamos consumidores “desatentos ou embrutecidos” de informação. Este facto poderá igualmente explicar os motivos subjacentes ao facto de quanto mais tempo passamos a passear pela Web, mais difícil se torna concentrarmo-nos.Talvez esta seja uma oportunidade para nos tentarmos livrar deste vício compulsivo. Ou para ir já a correr à Net pesquisar sobre o assunto.
Em: Ver - Valores, Ética e Responsabilidade. Edição nº 122

sexta-feira, 18 de junho de 2010

No silêncio dos olhos


No silêncio dos olhos
Em que língua se diz, em que nação,
em que outra humanidade se aprendeu
a palavra que ordene a confusão
que neste remoínho se teceu?
Que murmúrio de vento, que dourados
cantos de ave pousada em altos ramos
dirão, em som, as coisas que, calados,
no silêncio dos olhos confessamos?
José Saramago
Os Poemas possíveis
Lisboa, Caminho,1999

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Morro, Senhor, de indiferença


Como se morre de velhice
ou de acidente ou de doença,
morro, Senhor, de indiferença.
Na indiferença deste mundo
onde o que se sente e se pensa
não tem eco, na ausência imensa.
Na ausência, areia movediça
onde se escreve igual sentença
para o que é vencido e o que vença.
Salva-me, Senhor, do horizonte
sem estímulo ou recompensa
onde o amor equivale à ofensa.
De boca amarga e de alma triste
sinto a minha própria presença
num céu de loucura suspensa.
(já não se morre de velhice
nem de acidente, nem de doença,
mas, Senhor, só de indifrença).
Cecília Meireles

sábado, 1 de maio de 2010

Poema à mãe


No mais fundo de ti,
eu sei que te traí, mãe.
Tudo porque já não sou
o menino adormecido
no fundo dos teus olhos.
Tudo porque ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.
Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.
Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração,
ficou enorme, mãe!
Olha-queres ouvir-me?
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
Ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas como as que tens na moldura;
Ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio do laranjal...
Mas - tu sabes -a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.
Não me esqueci de nada , mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo as rosas.
Boa noite. Eu vou com as aves.
Eugénio de Andrade

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Primavera



Glória

Depois do inverno, morte figurada,
a primavera, uma assunção de flores.
A vida
renascida
e celebrada,
num festival de pétalas e cores.

Miguel Torga

quinta-feira, 11 de março de 2010

" O anjo do Gueto de Varsóvia"



Irena Sendler
Durante a 2ª Guerra Mundial, Irena conseguiu uma autorização para trabalhar no Gueto de Varsóvia, como especialista de canalizações. Mas os seus planos iam mais além... Sabia quais eram os planos dos nazis relativamente aos judeus (sendo alemã!)Irena trazia meninos escondidos no fundo da sua caixa de ferramentas e levava um saco de sarapilheira, na parte de trás da sua camioneta (para crianças de maior tamanho). Também levava na parte de trás da camioneta, um cão a quem ensinara a ladrar aos soldados nazis quando entrava e saia do Gueto.Claro que os soldados não queriam nada com o cão e o ladrar deste encobriria qualquer ruido que os meninos pudessem fazer.Enquanto conseguiu manter este trabalho, conseguiu retirar e salvar cerca de 2500 crianças.Por fim os nazis apanharam-na e partiram-lhe ambas as pernas e os braços e prenderam-na brutalmente.Irena mantinha um registo com o nome de todas as crianças que conseguiu retirar do Gueto, que guardava num frasco de vidro enterrado debaixo de uma arvore no seu jardim.Depois de terminada a guerra tentou localizar os pais que tivessem sobrevivido e reunir a familia. A maioria tinha sido levada para aa camaras de gás. Para aqueles que tinham perdido os pais ajudou a encontrar casas de acolhimento ou pais adoptivos.
Não permitamos que alguma vez, esta Senhora seja esquecida!!

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

O silêncio que sai do som da chuva


O silêncio que sai do som da chuva espalha-se, num crescendo de monotonia cinzenta...
Fernando Pessoa
Livro do Desassossego

domingo, 31 de janeiro de 2010

É urgente o amor

Foto retirada da net

É urgente o amor.

É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,

ódio, solidão e crueldade,

alguns lamentos,

muitas espadas.

É urgente inventar alegria,

multiplicar os beijos, as searas,

é urgente descobrir rosas e rios

e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz

impura, até doer.

É urgente o amor, é urgente

permanecer.

Eugénio de Andrade

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Compreender as pessoas


Para compreender as pessoas devo tentar escutar
o que elas não estão dizendo, o que elas talvez nunca
venham a dizer...

(John Powell)