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quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

domingo, 28 de dezembro de 2008

Ouvir as estrelas !


- Ora (direis) ouvir estrelas! Certo, perdeste o senso! E eu vos direi, no entanto, que, para ouví-las, muita vez desperto e abro a janela, pálido de espanto. E conversamos longo tempo, enquanto a Via Láctea, como um pálio aberto, cintila. E, ao vir o sol, saudoso e em pranto, ainda as procuro pelo céu deserto. Direis agora: - Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido tem o que dizem quando estão contigo? E eu vos direi: - Amai para entendê-las, pois só quem ama pode ter ouvido capaz de ouvir e de entender estrelas!

Olavo Bilac

domingo, 21 de dezembro de 2008

segunda-feira, 24 de novembro de 2008


(Imagem Galeria olhares)

Pertenço a uma geração que perdeu todo o respeito pelo passado e toda a crença ou esperança no futuro. Vivemos por isso do presente com a gana e a fome de quem não tem outra casa...

O sol da nossa preocupação egoísta está no ocaso, e é em cores de crepúsculo e contradição que o nosso hedonismo se arrefece.

(Fernando Pessoa)

terça-feira, 11 de novembro de 2008

E a pedra se moldou

Houve em tempos sem forma, uma fusão
mordida de cristais neste basalto.
Houve decerto um rio, um mar antigo,
onde a pedra rolou.
Houve também um sismo, e outro sismo
agora cumprirá, na mão fechada,
a forma prometida. Assim, exacta,
a pedra se moldou.

José Saramago

segunda-feira, 3 de novembro de 2008


Os Convencidos da Vida

Todos os dias os encontro. Evito-os. Às vezes sou obrigado a escutá-los, a dialogar com eles. Já não me confrangem. Contam-me vitórias. Querem vencer, querem, convencidos, convencer. Vençam lá, à vontade. Sobretudo, vençam sem me chatear. Mas também os aturo por escrito. No livro, no jornal. Romancistas, poetas, ensaístas, críticos (de cinema, meu Deus, de cinema!). Será que voltaram os polígrafos? Voltaram, pois, e em força. Convencidos da vida há-os, afinal, por toda a parte, em todos (e por todos) os meios. Eles estão convictos da sua excelência, da excelência das suas obras e manobras (as obras justificam as manobras), de que podem ser, se ainda não são, os melhores, os mais em vista. Praticam, uns com os outros, nada de genuinamente indecente: apenas um espelhismo lisonjeador. Além de espectadores, o convencido precisa de irmãos-em-convencimento. Isolado, através de quem poderia continuar a convencer-se, a propagar-se?
(...) No corre-que-corre, o convencido da vida não é um vaidoso à toa. Ele é o vaidoso que quer extrair da sua vaidade, que nunca é gratuita, todo o rendimento possível. Nos negócios, na política, no jornalismo, nas letras, nas artes. É tão capaz de aceitar uma condecoração como de rejeitá-la. Depende do que, na circunstância, ele julgar que lhe será mais útil. Para quem o sabe observar, para quem tem a pachorra de lhe seguir a trajectória, o convencido da vida farta-se de cometer «gaffes». Não importa: o caminho é em frente e para cima. A pior das «gaffes», além daquelas, apenas formais, que decorrem da sua ignorância de certos sinais ou etiquetas de casta, de classe, e que o inculcam como um arrivista, um «parvenu», a pior das «gaffes» é o convencido da vida julgar-se mais hábil manobrador do que qualquer outro. Daí que não seja tão raro como isso ver um convencido da vida fazer plof e descer, liquidado, para as profundas. Se tiver raça, pôr-se-á, imediatamente, a «refaire surface». Cá chegado, ei-lo a retomar, metamorfoseado ou não, o seu propósito de se convencer da vida - da sua, claro - para de novo ser, com toda a plenitude, o convencido da vida que, afinal... sempre foi.

Alexandre O'Neill, in "Uma Coisa em Forma de Assim"

sexta-feira, 24 de outubro de 2008


Outono



Folhas caídas, amarelecidas,
aconchegos de chão.

Abraços de sol,
que nos remetem para o colo da mãe…

Brisa que beija em breves carícias,
longos confortos…

A vida, em renovação.

sábado, 27 de setembro de 2008

A vida é um novelo




A vida é um novelo que alguém emaranhou.

Há um sentido nela, se estiver desenrolada e posta ao comprido, ou
enrolada bem.

Mas, tal como está, é um problema sem novelo próprio, um embrulhar-se
sem onde.

( Fernando Pessoa)

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

O meu país sabe a amoras bravas no verão

As Amoras

O meu país sabe as amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.

Eugénio de Andrade ("O Outro Nome da Terra")

domingo, 31 de agosto de 2008


Aquelas nuvens, que voam,
Ninguém pode pôr-lhes mão...
São como as horas que soam,
E as aves, que em bando vão...
Como a folha desprendida,
E como os sonhos da vida,
Aquelas nuvens que voam...

Aquelas nuvens que vemos,
Esses poemas aéreos,
São os sonhos que nós temos,
Nossos intímos mistérios!
São espelhos flutuantes
Das nossas dores constantes
Aquelas nuvens que vemos...

Nossa alma vai - se com elas,
À procura, quem o sabe?
Doutras esferas mais belas,
Já que no mundo não cabe...
Voando, sem dar um grito,
Através desse infinito,
Nossa alma vai - se com elas!

Antero de Quental

Imagem: www.olhares.com

sábado, 16 de agosto de 2008

A pressão do tempo

Porque vivemos numa roda viva e numa inquietação permanente ?

Andar depressa, fazer à pressa responder apressadamente, vão-se tornando características de um tempo que não deixa tempo.

A pressão do tempo gera stress. A expressão vulgarmente usada de "prazo final", pressupõe uma ameaça. "Se não entregar dentro do prazo limite é o fim".

Não podemos acreditar que o tempo está a acabar.Por sermos ao mesmo tempo físicos e quânticos, vivemos vidas multidimensionais. Ocupamos o mundo visível dos sentidos, mas também ocupamos o mundo quântico.

Quando mergulhamos na água do mar, a nossa consciência não se molha.

As limitações da vida física interferem muito pouco com o mundo quântico.

O frio do inverno não congela as nossas recordações.

São universos paralelos onde vivemos, sem pensar nisso. Não estamos presos ao tempo, a nossa viagem não começa ou termina no mundo físico. A nossa essência é intemporal.

Somos fruto de uma educação que prioriza actividades que desenvolvem a racionalidade desvinculada da intuição, da emoção e dos sentimentos do ser.

Não temos mais tempo, priorizamos pouco tempo para ser, para estar e para a partilha dos afectos.

O stress da actividade profissional faz acumular uma tal necessidade de evasão que tem que ser satisfeita prontamente e em geral de forma frenética.

Á medida que aceleramos, a nossa relação com o tempo torna-se cada vez mais apertada e disfuncional.

As férias são hoje cansativas, com um extenso programa de actividades que é preciso cumprir, é preciso fazer o maior número de coisas, o que não permite o repouso e a renovação. O tempo livre não é saboreado, mas sim consumido.

Este frenesim é também transmitido aos nossos filhos. Há crianças com uma agenda semanal tão sobrecarregada como a de um empresário: escola, piscina, música, artes marciais, inglês, etc. Não sobra tempo.

A vida torna-se, uma sequência de dias vazios que é preciso preencher depressa.

Perdemos a arte de não fazer nada, e ficarmos simplesmente sozinhos com os nossos pensamentos.

Se nos retiram os estímulos entramos em pânico e procuramos qualquer coisa para ocupar o tempo.

Numa simples viagem de comboio, as pessoas não olham simplesmente pela janela. Toda a gente está ocupada, a ler o jornal, a jogar videojogos, a ouvir iPods, a trabalhar no computador portátil, ou a falar ao telemóvel.

Desenvolvemos uma psicologia da velocidade. Quantas pessoas se queixam, " Oh, tenho tanto que fazer, não sei para onde me virar, a minha vida é uma confusão, não tenho tempo para nada", o que muiras vezes querem dizer é: " Olhem bem para mim: Sou imensamente importante ".

Mas, de que serve subir a escada do sucesso, se pelo caminho perdermos os primeiros passos dos nossos filhos?

Talvez o desafio do movimento Slow seja o de tentar curar a nossa relação neurótica com o tempo.

A filosofia deste movimento resume-se numa simples palavra: equilíbrio.

Viver a velocidade correcta, ser rápido quando faz sentido ser rápido, ser lento quando faz sentido ser lento.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

À descoberta do silêncio

A infinita variedade de silêncios revela-se plena de sentidos.
Se escutarmos, o silêncio fala-nos acerca dos lugares e dos seres. Num mundo cada vez mais ruidoso, o valor do silêncio precisa ser redescoberto.

Nas cidades, o ruído torna-se parte integrante de toda a actividade, funciona como uma droga. O silêncio inquieta.

No nosso dia-a-dia tudo fazemos para que o silêncio não se prolongue muito tempo: daí todas aquelas discussões ociosas sobre o tempo que faz ou vai fazer, quando não há mais nada para dizer.

O silêncio é a face oculta da pessoa.

Ele possui a limitação do olhar, porque os olhos são a moldura das coisas que não dizemos.Os grandes silêncios precisam de um vasto olhar.

Podemos procurar em nós um silêncio que é serenidade. Este estado permite-nos enfrentar melhor o stress quotidiano.

O homem moderno vive enclausurado entre as burocracias, entre o aborrecimento e a distracção, produzindo muito ruído, o ser humano foge de tudo aquilo que se assemelha ao vazio, onde ele poderia, talvez, reencontrar e contemplar o seu “rosto original”.

O receio de viver o silêncio criou uma cultura superficial, que cortou com os momentos intensos onde nos deixamos flutuar nas vibrações do meio ambiente, numa espécie de osmose subtil que perpassa cada ser.

Precisamos começar a transcender esse estado, saindo do barulho à descoberta do silêncio.

O silêncio não é uma ausência de som, mas sim um desvio da atenção para sons que nos falem à alma.