Sitemeter

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A verdade



A Verdade

A porta da verdade estava aberta,
Mas só deixava passar
Meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
Porque a meia pessoa que entrava
Só trazia o perfil de meia verdade,
E a sua segunda metade
Voltava igualmente com meios perfis
E os meios perfis não coincidiam verdade...
Arrebentaram a porta.
Derrubaram a porta,
Chegaram ao lugar luminoso
Onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
Diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual
a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela
E carecia optar.
Cada um optou conforme
Seu capricho,
sua ilusão,
sua miopia.
(Carlos Drummond de Andrade)

3 comentários:

helia disse...

Obrigada por ter visitado o meu blog. Eu também gostei de visitar o seu e adorei este texte de Carlos Drumond de Andrade

Graça Pires disse...

Drummond de Andrade é muito irónico neste poema. Cada um vê o que a sua miopia deixa...
Um beijo.

Maria Ribeiro disse...

"MIOPIA DA SENSIBILIDADE" e do humanismo! Ninguém como DRUMOND de ANDRADE para o retratar...
OBRIGADA POR TUA visita ao meu LUSIBERO
BEIJOS
Mª ELISA