A coisa mais parecida com os olhos de Deus são os olhos de
uma mãe. Estes são um raio- x infalível. Não ficam apenas a olhar as
aparências, antes penetram naquele fundo secreto e silencioso da vida e sabem
interpretá-lo, respeitando, contudo, e com delicadeza, o seu segredo.
Quantas vezes, já adultos e elas avançadas em idade,
voltamos a casa e elas tinham à nossa espera, preparado, o nosso prato favorito
ou, quando nos despedíamos, obrigavam-nos a levar o resto a sobremesa ou um
saco com o bolo que elas próprias fizeram?
Quantas vezes demos com os olhos delas a investigarem o
nosso rosto, a derramar-se para dentro dos nossos olhos, perguntando-se que
sede seria agora a nossa e como poderiam ainda ajudar a saciá-la?.
O olhar de uma mãe humaniza o filho.
José Tolentino Mendonça – Elogio da Sede – Ed. QUETZAL